domingo, 2 de dezembro de 2012

As famílias estão muito caladas!


   Depois de tantos anos de atuação com adolescentes, tendo a possibilidade de atualizar-me na linguagem, nos filmes, nos livros, nas gírias, nas relações, no "ficar", no "não ficar", na dor de ter ou não a possibilidade de algumas coisas, nas inseguranças próprias da juventude, no silêncio das famílias...
Sinto-me muitas vezes tentando entender que corrente é essa que foi instituída das "não relações". Dentro de nossas próprias casas! Tenho a impressão que investir nos relacionamentos têm dado muito trabalho, por isso, a ideia do descarte está atualmente tão estabelecida, a solidão instalada - no meio de tantas pessoas nos sentimos absolutamente sozinhos, a depressão, doença e não comportamento, é uma das maiores existentes hoje no mundo. Anti depressivos, terapia, acompanhamento, encaminhamento, terceirização da educação de nossos filhos. Diagnósticos rodando a nossa atuação profissional. Elementos altamente importantes na condução da vida de nossas crianças e jovens.
   Impressiona-me o que a vida está fazendo com as pessoas, ou melhor - a não vida! De que vida estamos falando? Que tipo de seres somos e que tipo de historia queremos passar aos nossos filhos, crianças e adolescentes?
   Somos adultos indisciplinados! Falamos de algo que não conseguimos fazer. Dizemos coisas, criticamos, cobramos e nos colocamos como exemplos daquilo que não somos! Temos dificuldade em viver de maneira transparente. Temos atitudes que não condizem com o que insistentemente pregamos aos nossos filhos. Fomos cobrados, eu sei! Mas o que estamos fazendo com tudo isso? Vejo hoje a necessidade das pessoas organizarem encontros para estarem juntas, o que é muito bom, muito gostoso estar juntos. Eu mesma, participei de dois ontem. Um de ex colegas de classe do antigo Colegial ( pessoas entre 50-55 anos) e outro de uma Comunidade de Jovens da qual participei nos idos anos de 1970-1975. Coisa boa! Como é bom estar junto às pessoas que um dia nos foram significativas, antigos professores, amigos, confidentes, ex namorados, amigos que aprontavam mais, amigos mais sérios, mais extrovertidos.  Como é bom o aconchego daquilo que é humano- o abraço, o beijo, as lembranças, a saudade... Historias que hoje contamos aos nossos filhos, mas que infelizmente não conseguimos viver com eles!
O que tudo isso tem a ver com escolha de profissão?
Os jovens só conseguirão escolher se tiverem a possibilidade de se apropriar de suas historias de vida. Quantos jovens não têm a menor noção dos que se passou  na historia de seus pais? Será que isso não tem reflexos na vida deles, na carreira que irão seguir? Que tipo de argumentos nossos jovens terão na sua vida? Como se sairão nas  dinâmicas e entrevistas de trabalho? Se lembrarão do que seus pais e professores contaram, conversaram, discutiram, ou se basearão numa construção pessoal de sites, links, celulares, e a grande solidão das redes que aderimos sem pestanejar? O homem e a máquina digitando, lendo, assistindo, mas, não falando, não olhando com olhos de ver. Ouvindo, mas, não escutando. Não tem toque, a pele não sente, os olhos que não vêm as lágrimas, o assunto que precisa ser conversado e que trava na nossa garganta e não sai. O silêncio!
Porque será que não nos permitimos mais falar de nós, sentir, rir, chorar, contar, reviver, abraçar, pedir desculpas, admitir que erramos, elogiar, incentivar, repreender, dizer o que pensamos. Porque será que saímos juntos, mas a nossa relação se pauta em um eletrônico em nossas mãos? Porque será que fazemos de conta que estamos, sem estar?
Pais, adultos da relação. Temos que perceber a nossa influência e a nossa responsabilidade sobre o desenvolvimento de nossos filhos. É na nossa existência, em nossas atitudes que eles pautarão o seu futuro. Ainda dá tempo!

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